quinta-feira, 7 de julho de 2011

Entrevista Fernando Anitelli

Música, circo, poesia e elementos do teatro dialogando no mesmo espaço apoiados por uma ideologia, é neste contexto de sarau amplificado que a trupe “O TEATRO MÁGICO” vem trilhando seu caminho há alguns anos. Veja a entrevista que Fernando Anitelli concedeu a um site da Bahia antes da trupe fazer um show especialíssimo na grande final do Projeto Desafio de Bandas, que acontece no próximo domingo, apartir das 15h, no Bahia Café Hall!
Site – Conta pra nós um pouco da trajetória do Teatro Mágico.
Teatro Mágico – A ideia inicial era amplificar o que acontecia nos saraus em que eu participava, mesclar informações de diferentes timbres, vindas do teatro, música, poesia, circo. Como eu antes tive uma banda, usei as idéias que já desenvolvia na banda para dar início ao projeto, com muita brincadeira, ousadia. Convidei alguns músicos, artistas circenses para ensaiamos… e no dia 13 de dezembro de 2003, o Teatro Mágico fazia a sua primeira apresentação. As coisas foram acontecendo aos poucos, mas eu sempre tive muita organização. Eu sabia que o projeto tinha força para crescer, amadurecer e se manter. É legal porque tudo aconteceu no boca a boca, pela internet e é muito bacana ver que tem um público ansioso pela gente.
Estamos nos preparando para o lançamento de nosso terceiro disco. Na semana passada entrou no ar o hotsite http://oteatromagico.mus.br/, que reunirá todas as novidades sobre O Teatro Mágico até o lançamento do cd, previsto para setembro.
S – Nas andanças e estripulias da Trupe, vocês já viveram muitas histórias juntos, qual a que mais se destacou?
TM – Eu poderia contar uma que aconteceu em Salvador, num pequeno bar onde precisamos aumentar o palco com algumas madeiras para podermos fazer o show. No primeiro pulo que eu dei senti uma madeira quebrar e um buraco se abrir. Como o buraco estava coberto por um tecido do palco, o resto da trupe não via. Pra proteger as bonecas, quando elas entravam eu pulava pra trás, de perna aberta sobre o buraco, numa postura rock’n roll brincando com a guitarra. Elas não entendiam nada, mas o que eu estava fazendo era pra protegê-las de não cair no buraco. A gente tem que fazer acontecer, criar junto com a situação…
Aquele realmente foi um show pra colocar num documentário. Na hora de irmos embora começou a chover e por conta da hora tivemos que sair maquiados, na chuva, carregando os equipamentos. A maquiagem escorrendo e aquela chuva, parte do público começou a aplaudir a gente mas ninguém ajudou… Quando batemos na porta da van pra acordar o motorista e entramos com o primeiro equipamento, ele nos mandou tirar, dizendo que não iria carregar a gente molhado no carro dele. Pra ajudar, o bar ficava num morro onde nosso ônibus não conseguia chegar. Tivemos que descer parte do morro com os equipamentos. Foi uma noite em que experimentamos o sentimento de união, de aprender como se estruturar melhor pra projetar uma coisa bacana…
S – Quais os músicos e/ou autores e que inspiram o trabalho, a música de vocês?
TM – Secos e molhados, Legião Urbana, Raul Seixas, Chico Sciene, Nação Zumbi, Zeca Baleiro… e internacionais: Simon & Garfunkel, Radiohead, Smiths, The Cure, Dave Matthews Band…
S – Existe uma música que seja (mais) especial para a trupe do TM?
TM – “O Anjo Mais Velho” e “Pena” são músicas que tem um carinho especial do público. Mas eu, tem dia que gosto mais de uma, depois mais de outra….
S – Como vocês definem o estilo musical do TM?
TM – Música pop, popular, que vem do povo e é feita para o povo. Não tem este conceito de MPB do tipo voz e violão, mas de uma música brasileira pop, com influências inclusive da música brasileira instrumental. Sempre buscamos misturar timbres e estilos diferentes. Fazemos música!
S – De onde veio a idéia de criar esse formato de show/banda?
TM – Eu frequentava muito saraus. Era envolvido em rodas de música e poesia, mostrava letras para amigos compositores, ouvia a música de outros. Essa troca de informações me deu a ideia de montar o grupo, que é um sarau amplificado. Assim, pude levar para o palco tudo aquilo que eu via acontecendo de teatro e música, tudo no mesmo plano.
S – Como é a relação de vocês com as redes sociais da internet? Isso ajuda no trabalho de vocês?
TM – Bom, vamos lá! Sempre falo abertamente que “sem a internet não existiria o projeto “O Teatro Mágico” como ele é hoje!” (A música sim… ela já era antes de eu saber!). O uso da internet para divulgar o trabalho foi motivado pela minha decepção com as gravadoras. Quase tudo começou com uma banda que se chama Madalena 19. Fomos contratados e ao gravar nosso primeiro CD, a gravadora “Cascatas Records” (ainda se fosse “Cachoeiras”), nos impôs mudar os arranjos de todo nosso material, disse que a “levada” não estava agradando, e que teríamos que regravar a maioria das músicas em “formato” de forró universitário e ska (algo nada parecido com o que fazíamos). Então, como não aceitamos, ficamos presos a um contrato que nos impedia de usar todo o material já gravado! Após rescisão de contrato, o efeito de tristeza moral foi geral… o tal sonho da gravadora havia acabado! Foi quando meu “querido paaai!”, Odácio Anitelli, resolveu jogar as músicas na internet. Ele disse: “Filho a rescisão contratual quem faz com o artista… é o público! É ele que tem que dizer se gosta da tua música ou não!” No início do projeto o “Orkut” foi nossa principal ferramenta de divulgação, lá construímos uma comunidade com mais de 80 mil integrantes, que logo depois sumiu sem sabermos o motivo!? (coisas do planeta Google). Na época jogávamos as músicas também no E-Mule e meu pai ficava monitorando os downloads, cada internauta que baixava uma música já era uma festa. Hoje temos novamente uma comunidade no Orkut com mais de 106 mil pessoas, no Twitter temos mais de 71 mil pessoas. Eu tenho mais de 41 mil seguidores no Twitter e Galldino mais de 11 mil. Temos uma página aberta há menos de 1 mês no Facebook que já tem 17 mil fãs e um Tamblr com 5 mil seguidores, que também é novo, tem 15 dias. Nos sites “Trama Virtual” e “Palco MP3” superamos 1 milhão de downloads feitos e mais de 5 milhões de transmissões de músicas do primeiro e segundo CD. É dessa forma que as redes sociais nos influenciam, e nós, através delas, fortalecemos o projeto.
S – Vocês já tocaram em Salvador. Como é voltar pra terrinha baiana e tocar agora em um projeto que objetiva fomentar a produção musical local e favorecer o reconhecimento de novos talentos estudantis pertencentes ao ensino médio e superior da Bahia – o Desafio das Bandas?
TM – Salvador tem um dos púbicos mais quentes do país, parece que chega numa final de campeonato e a torcida dos dois times se reúne pra comemorar. É um público muito carinhoso. É muito bacana poder voltar numa situação como essa, onde a ideia é favorecer novos talentos, e também um debate sobre que tipo de música se está fazendo e se quer fazer. É importante se debater sobre nossa existência neste mercado independente e fomentar esta discussão no meio estudantil. Também é interessante despertar no meio estudantil esta disposição de ouvir musica nova e autoral.
S – Deixem uma mensagem / Dica para essas novas bandas que vem surgindo no cenário musical baiano.
TM – Produzam sua arte, façam saraus, compartilhem suas sonoridades. Hoje é possível, minimamente, ter uma biblioteca de vídeos e música dentro de um site, blogs com links, enfim… A gente tem que estar contextualizado, acontecendo, acompanhando o que cada um tem feito, as idéias que funcionaram. Vamos se ajudar, acontecer juntos. Vamos nos provocar! A música é como o ar: livre.

Entrevista publicada pelo site Desafio de Bandas e também publicada no BARULHO CULTURAL: http://barulhocultural.com.br/entrevista-fernando-anitelli/

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário